quinta-feira, 3 de março de 2011

Por trás da terceira orelha de Stelarc



A terceira orelha de Stelarc nos convida a sussurrar confidências sobre o que nos causa esta experiência artística e robótica. Será Stelarc um provocador sobre o que somos e ainda seremos capazes de realizar ou, em breve, este homem se tornará um habitué do nosso cotidiano?

Há poucos meses, avançando na compreensão do significado artístico, descobri o prazer de como se conectar a esta necessidade humana de expressar algo que vai além da compreensão dos sentidos do corpo, necessidade de expressão cujo resultado chamamos de arte.

Quando repousamos nossa mente e olhar sobre uma obra, um objeto de arte (uma fotografia por exemplo), experimentamos qual vivência interna tal obra nos traz, ou seja, abrimos espaços em nós e internalizamos a obra (com ou sem julgamentos) para que a mesma se manifeste e, por fim, tenhamos vivido uma experiência, uma vivência artística.

Dado a necessária  e devida contextualização sobre a arte como vivência, trago ao nosso palco um ícone de obras performáticas: o australiano Stelarc (http://stelarc.org/), cujo trabalho dedicado ao futurismo nos traz provocações sobre a obsolescência do corpo humano e a possível evolução que estaria além das nossas capacidades atuais. Com o demasiado uso da robótica e outras tecnologias, o artista é um dos maiores exemplos da introdução (literalmente) de objetos criativos na composição de uma vivência, um cenário para expressar os limites do corpo humano, nossa atual capacidade e as possibilidades que teremos para ir além da nossa forma atual.

Ao apreciar e internalizar as obras de Stelarc, tenho a forte sensação de que o artista tem por motivo de suas ações despertar inquietações demasiadamente humanas, tais como: nossos corpos depois de mortos deveriam realmente se decompor ou poderiam esperar para serem reanimados? Transferir a face de um corpo morto para um corpo vivo é criar uma terceira face? Quais os limites científicos e éticos para prolongar a obra humana através da criação de órgãos sem corpos?

Se me fosse permitido resumir em uma única palavra a principal característica da expressão artística de Stelarc eu diria: inquietante.

A proposta de reflexão que o artista nos convida em suas obras é atraente e facilmente visível quando, por exemplo, em uma de suas performances, permitiu que o público presente tivesse controle sobre estimuladores musculares eletrônicos presentes em seu corpo e conectados à internet.

Recentemente, Stelarc causou polêmica ao se tornar o primeiro homem do mundo a implantar em seu braço esquerdo uma prótese de orelha humana cultivada através de cultura celular.

Quanto a nós resta esperar que o performático (e aparentemente insatisfeito) Stelarc, implante um fone de ouvido em sua terceira orelha e transmita via Bluetooth para internet o que ela escuta.

E depois? Quais seriam as próximas inquietações de Stelarc? Uma vagina USB? Afinal, não é novidade que nós homens já carregamos todos “dados genéticos” que precisamos em nossos “pendrivers”.

F.

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